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[LIVRO] O Cinema Como Razão de Viver - CARLOS REICHEMBACH

Título:  O Cinema Como Razão de Viver - CARLOS REICHEMBACH
Autor: Marcelo Lira
Coleção Aplauso Cinema Brasil
Editora:
Imprensa Oficial do Estado de SP
Edição: Primeira
Páginas: 350
Estado:
Bem Consevado
ILUSTRADO










pg 73-76

Lembro que o melhor presente que recebi na minha vida foi um mimeógrafo, daqueles antigos a álcool. Me pai me deu quando eu era garoto. Editei muito jornal em casa. Pode-se dizer que eu nasci para ser editor e o cinema foi um desvio de rota. Boa parte da minha geração de diretores, bem como o pessoal do Cinema Novo, veio do jornalismo, do texto escrito. Quando eu entrei na faculdade de cinema São Luis, imaginava que existisse o curso de roterista. Queria escrever para cinema. Eu ja gostava de cinema na adolescência, mas não pensava nunca em ser diretor. Aos nove anos de idade, meus pais eram muito amigos do casal Vera e Oswaldo Sampaio.Ele foi o diretor de Sinha Moça, A Estrada e outros. Meu pai editava uma resvita ligada à cultura chamada Lady. Era uma revista considerada muito adiantada para a época, uma revista para mulheres sem fotonovela, que contratava escritores para fazer os artigos. Nomes como Dinah Silveira de Queirós ou Ernani Donato. Aliás ele lançou várias revistas Seleções durante duas décadas. Em 1956, o Oswaldo adaptou uma novela do Dinah, chamada Jovita, que havia sido publicada na revista Lady, que ele pretendia filmar. O filme acabou não saindo, mas lembro que ele fez uma leitura da adaptação para o meu pai e outros amigos, lá na casa da represa Billings. Eu tinha nove anos de idade e aquela leitura me marcou muito. Fiquei absolutamente fascinado com a construção do roteirocinematográfico; me pareceu uma maneira inovadora de lidar com a literatura. Aos 11 anos, resolvi escrever meu primeiro roteiro. Nem lembro direito do que se tratava, foi meu primeiro texto distribuído em vários cadernos escolares e tambem meu primeiro contato com o "cinema escrito". Ao mesmo tempo, meu pai tambem era ligado à prátic amadora do cinema, tinha uma Câmera 16 mm e filmaa bastante.
Ele fez uma volta ao mundo de navio, com minha mãe, em 1953, e voltou com inúmeros rolos de filme colorido reversível. Usei cenas filmadas por ele em Hong-Kong, Macau e Honolulu no meu longa Alma Corsária. Ampliadas para 35 mm, elas aparecem, por exemplo, naquelas lembranças do chinês, dono da Pastelaria, quando o pianista começou a tocar.


pag 98
Influência Política

Uma coisa que sempre me interessou muito desde a adolescência, foi o pensamento anarquista. Sou filho único e meu pai morreu cedo. Minha mãe é estoniana. Pouca gente sabe disso, mas uma coisa que me marcou muito foi que passei a vida inteira testemunhando ela receber correspondência familiar aberta. A Estônia era um país que fazia parte da União Soviética. As cartas das irmãs e sobrinhas da minha mãe que chegava em casa, eram sempre lidas com antecedência pelos agentes da repressão, tanto da Estônia quanto do Brasil. Certa época da minha vida eu tentei me aproximar do "Partido Comunista"; minha mãe descobriu e ficou dias sem falar comigo.
Em meu filme mais político, Império do Desejo, há um embate entre um anarquista e uma maoísta, onde a moísta fala - entre outras frases problemáticas - a frase dita por Roosevelt quando entregou a Estônia, Letônia e Lituânia para a União Soviética: "Quero beber à saúde da nossa aliança." ... Foi uma satisfação imensa exorcizar essse karma materno em Império do Desejo, o filme que dediquei a Pierre Proudhon: "Toda a propriedade é um roubo!"

pag 103-104

... houve aqueles problemas com a Embrafilme,  a chegada do Collor ao poder e as dificuldades de produção de cinema que se conhece. No início dos anos Collor, eu e outros cinco cineastas fundamos a "Casa de Imagens". Ficamos três anos trabalhando em um projeto de seis filmes de baixo custo, que acabou se tornando modelo no Brasil e na Europa. Desse projeto foram concretizados depois dois filmes: Perfume de Gardênia do Guilherme de Almeida Prado e Loucos Por Cinema, de André Luis de Oliveira, que eram dois dos sócios da produtora. Os outros sócios eram Julio Calasso Jr, Andréa Tonacci, Inácio Araújo e eu. O projeto de seis filmes da Casa de Imagens foi apresentado para investidores internacionais para o que o financiassem baseados na chamada "Lei da conversão da dívida externa". Houve grande interesse e muita conversação. Estávamos prestes a fechar um contrato de financiamento com um banco holandês. Um dia antes de assinar o contrato, a lei da conversão da dívida foi derrubada pelo Congresso. Foi muito azar. Já era uma época bem ruim para fazer cinema no Brasil e ainda acontece isso. Imagine a nossa decepção. Com esse episódio fiquei desencantado em continuar fazendo cinema no Brasil. Decidi que não dava para trabalhar em um país onde as regras do jogo mudam a toda hora. Passei um período inativo, mas descobri que consigo me adaptar rapidamente às constantes mudanças de regras que caracterizam o país. ... Já enfrentei todo tipo de dificuldade para fazer cinema. Pode imaginar a pior coisa que garanto que ja aconteceu comigo.
Meus filmes foram quase todos realizados sob as condições mais adversas. Acho que nada desculpa o "corpo mole", o deixar de produzir. Você deve inventar condições para filmar, seja qual for a situação. É só olhar minha carreira. Quanfo me ofereceram para trabalhar como diretor contratado, trabalhei.

Reichenbach filmando com Helio Nakayama
Sara Silveira e Reichenbach

Reichenbach nas filmagens de Audácia
Neide Ribeiro e Fernando Benini em: A Ilha dos Prazeres Proibídos


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