Título: O Bandido da Luz Vermelha
Gênero: Policial
Duração: 92 min.
Lançamento: 1968
Direção e Roteiro: Rogério Sganzerla
Produção: Urânio Filmes
Música: Rogério Sganzerla
Fotografia: Peter Overbeck
Desenho de Produção: Andréa Tonaci
Montagem: Sílvio Renoldi
Narração: Hélio Aguiar
Distribuição: Urânio Filmes e Riofilmes
Elenco: Paulo Vilaça,Sônia Braga, Helena Ignez, Sérgio Hingst, Luiz Linhares, Ítala Nandi
INFO:
Um Filme inovador, que tem em um assaltante misterioso munido de técnicas extravagantes para roubar casas luxuosas de São Paulo.
Apelidado pela imprensa de "O Bandido da Luz Vermelha", traz sempre uma lanterna vermelha e conversa longamente com suas vítimas. Debochado e cínico, este filme se transformou num dos marcos do cinema marginal.
Tim Lopes entrevista O Bandido da Luz Vermelha (o João Acácio), no manicômio judiciário - João Acácio, delirando na entrevista, após confessar ter produzido grandes filmes com Jimmy Carter, cinema da altura de Ben-Hur e Os 10 Mandamentos, diz:
"[...] 'Foi assim que eu destrui o mundo do cinema barato. Tornei-me o Deus do cinema'
[No entanto, João Acácio - relata Tim Lopes -] Não viu o filme baseado na sua vida, O Bandido da luz vermelha, feito por Rogério Sganzerla, no final dos 60. Como tambem não ganhou direito autoral sobre o filme, diz não ter conhecido o diretor e nem saber de sua existencia."
Fonte: Livro Terror Policial, Tim Lopes
Manifesto ao Bandido da Luz Vermelha - por Rogério Sganzerla Out./1968
"Meu filme é um far-west sobre o terceiro mundo. Isto é, fusão e mixagem de vários gêneros pois para mim não existe separação gênero. Então fiz um filme-soma, um far-west mas também musical, documentário, policial, comédia ou chanchada (não sei exatamente) e ficção científica.
Resumindo, do documentário, a sinceridade (Rossellini); do policial, a violência (Fuller); da comédia, o ritmo anárquico (Senett, Keaton); do western, a simplificação brutal da narrativa (Hawks), assim como o amor pelos planos gerais e os grandes espaços (Mann). Poderia falar muito mais sobre a chanchada, que considero uma das nossas mais ricas tradições culturais, como também do estilo radiofônico do filme; o rádio brasileiro é outra tradição que não pode ser desconhecida, principalmente quando se tenta mergulhar nas origens e implicações do subdesenvolvimento. Não tive nenhum pudor em realizar tal plano inclinado, tal diálogo ou situação cafajeste.
Fiz questão inclusive de filmar como habitualmente não se deve filmar; isto é, utilizando angulações preciosista e de mau gosto, alterando a altura da câmera, cortando displicentemente, não enquadrando direitinho, sendo acadêmico quando me interessava. Nesse filme marginal há citações de Primo Carbonari e das peças dirigidas por José Celso Martinez ( O Rei da Vela e Roda Viva), além de José Mojica Marins.
Fiz um filme voluntariamente panfletário, poético, sensacionalista, selvagem, malcomportado, cinematográfico, sangüinário, pretensioso e revolucionário. Os personagens desse filme mágico e cafajeste são sublimes e boçais. Acima de tudo, a estupidez e a boçalidade são dados políticos, revelando as leis secretas da alma e do corpo explorado, desesperado, servil, colonial e subdesenvolvido.
Meus personagens são, todos eles, inutilmente boçais, aliás como 100% do cinema brasileiro; desde a estupidez trágica do Corisco à cretinice do "Boca de Ouro", passando por Zé do Caixão e pelos atrasados pescadores de Barravento. Assim, o Bandido da Luz Vermelha é um personagem político na medida em que é um boçal ineficaz, um rebelde importante, um recalcado infeliz que não consegue canalizar suas energias vitais."
[fonte: Jairo Ferreira, Cinema de Invenção. RJ, EMBRAFILME/Max Limonad, 1986.]"