[DVD] Filme: Quarup / Kuarup - 1989

Título: Kuarup
Gênero:
Drama Literário
Lançamento: 1989
Pais: Brasil
Duração: 119 min
Direção: Ruy Guerra
Estrelando: Taumaturgo Ferreira, Fernanda Torres, Cláudio Mamberti, Cláudia Raia, Cláudia Ohana, Maitê Proença, Lucélia Santos...
DVD - COR





Adaptação da
obra de Antônio Callado







INFO:
Kuarup é um filme brasileiro de 1989, do gênero drama, dirigido por Ruy Guerra e baseado em obra de Antônio Callado, participou do Festival de Cannes do mesmo ano, mostra os rituais indígenas do Xingú, as mazelas da condição sacerdotal e política do Brasil.
Outras Adaptações de Callado em DVD:
A Madona de Cedro - 1968
Pedro Mico - 1985
A Madona de Cedro (Minissérie) - 1994

Sobre o Quarup:
Quarup é um romance do escritor brasileiro Antônio Callado publicado em 1967.
A ação de Quarup transcorre no período que vai do suicídio de Getúlio Vargas (1954) ao golpe militar de 1964 e mostra, sob a ótica do jovem padre Nando, a realidade social e política do Brasil desses tumultuados dez anos.
O padre Nando, um jovem ingênuo, puro e idealista, tem o sonho de reconstituir no Xingu uma civilização semelhante a que existiu nas Missões jesuíticas do sul do Brasil na época colonial e, para isso, tem que ir ao Rio de Janeiro, então capital do país, para obter a necessária licença do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), órgão que deu origem à atual FUNAI.
No Rio, toma contato com a sociedade permissiva do sexo livre e das drogas (que na época era o hoje o inocente lança-perfume) e com a corrupção política, pois os dirigentes do SPI desejam manipular o projeto de Nando em proveito próprio.
A segunda parte do livro transcorre no Xingu, em duas ocasiões diferentes: durante o quarup, ritual indígena, que funciona para Nando e outros personagens do romance como um rito de passagem, e durante a expedição para instalação do marco que identifica o centro geográfico do país, onde constata que o esforço despendido e a coragem demonstrada pelos expedicionários são inúteis para evitar um resultado frustrante. Na Amazônia, Nando se apaixona por Francisca, com quem mantém relações sexuais.
Na terceira parte, Nando, que já deixou a vida sacerdotal, está com Francisca em Pernambuco. Inicialmente, trabalha na alfabetização de adultos, mas, com o golpe de 1964, é preso, pois esta atividade educativa era vista como subversão. Francisca viaja para a Europa e, depois de solto, Nando passa então a viver uma vida despreocupada, centrada apenas no sexo, se transformando, conforme suas próprias palavras, em apóstolo do amor. Mas, após passar por várias experiências traumáticas, resolve aderir à luta armada contra o regime militar.










































Antônio Callado e o Quarup - Sergius Gonzaga

No romance estão todos os assuntos que então dominavam o debate político e existencial: a mudança de perspectiva da Igreja a respeito da questão social, as luta dos estudantes e das Ligas Camponesas, as razões do golpe de 1964, a revolução sexual, o feminismo, a proteção aos índios, a guerrilha, as drogas, etc.

O quadro histórico – traçado com bastante nitidez – tem peso direto no desenvolvimento da narrativa, abrangendo acontecimentos que transcorrem do governo democrático de Getúlio Vargas ao ditatorial de Castelo Branco. O escritor parece alimentar a idéia de fazer de Quarup uma suma da sociedade brasileira nas décadas de 1950 e 1960, na linha dos romances totalizantes do realismo europeu do século XIX.

O resultado do ambicioso projeto de Antônio Callado, todavia, é problemático. Há no romance um tal acúmulo de ações, muitas das quais inúteis ou inverossímeis, uma tal profusão de caracteres mal trabalhados, a começar pela própria psicologia do padre Nando – que passa da castidade ao furor orgíaco com a maior naturalidade e sem nenhum drama interior – que a impressão final do leitor é de perplexidade. Como numa montanha-russa, Quarup alterna vertiginosamente altos e baixos, acertos esplêndidos (algumas cenas eróticas, as passagens em que os brancos representam o apocalipse para os indígenas e a construção dramática do impasse do sertanista Fontoura ao se dar conta que “contatar” os índios era necessariamente destruí-los), e passagens menores, quase ridículas (Nando assumindo a condição de professor de sexo, a cosmopolita Sônia fugindo da civilização e embrenhando-se nos confins da floresta com um índio, etc).

Outro aspecto questionável em Quarup é a tentativa do autor de mesclar um estilo real-naturalista com freqüentes monólogos interiores e certos delírios verbais que hoje parecem gratuitos. O resultado desta mistura nem sempre é literariamente equilibrado e convincente.

Um elemento positivo do romance e que funciona como representação artisticamente fiel da realidade é a “desalienação”(Ferreira Gullar) de Nando, que deixa de sonhar com uma utopia indianista e passa a lutar pelos desvalidos nordestinos. Este processo traduz claramente as mudanças que se verificam na Igreja, na década de 1960, com a crescente politização de seus sacerdotes.

A proposição melhor realizada do romance é a identificação do centro do país não apenas como metáfora da plena integração nacional, mas também da descoberta de um sentido de vida para cada personagem que participa da expedição ao Xingu. Estabelece-se, assim, uma ligação umbelical entre as existências individuais e o destino do Brasil. Por isso, a morte do sertanista Fontoura com o rosto enfiado dentro do grande formigueiro, onde ficará o marco do centro do país, é a derrocada simbólica de um sonho de unidade e de desenvolvimento da nação e um augúrio pessimista a respeito dos acontecimentos que, na década seguinte (1960), traumatizariam os brasileiros.

* Quarup é o ritual indígena de celebração dos mortos. Mas, ao invés de lamentações, os índios realizam uma grande festa em homenagem aos que partiram (bebida, comida, alegria), pois neste dia eles revivem. Trata-se, portanto, de um ritual de renascimento.

REFLEXOS DO BAILE
A crise geral dos anos de 1970 parece tornar inviável a formulação neo-realista, predominantes nos romances anteriores de Antonio Callado, e encontra sua tradução no caótico Reflexos do baile (1976). O autor tenta compor um mosaico de época, centrando sua narrativa no seqüestro de um embaixador durante um baile de gala. Guerrilheiros, diplomatas, familiares de ambos os grupos e policiais misturam-se e se revelam parcialmente através de falas alternadas, bilhetes e cartas, criando uma fragmentação de tal ordem que o entendimento do enredo só se torna possível no final da obra. À confusão formal soma-se uma visão de mundo igualmente estilhaçada e nebulosa, fazendo com que o romance não tenha um eixo que lhe dê equilíbrio, tornando-se bastante confuso.
As demais obras ficcionais de Antonio Callado, produzidas nas décadas de 70 e 80 não acrescentaram nada de fundamental à sua carreira.